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8 mar 2018

Pare de dizer que você se sente gorda: Gordura não é sentimento

É simples: você não se “sente gorda”  pelo fato de que gordura não é sentimento.

O termo “gorda” é um substantivo feminino usado para caracterizar indivíduos, no caso mulheres, com tecido adiposo desenvolvido em excesso, podendo ser empregado, inclusive, de modo a se referir a uma pessoa obesa.

Não, o mundo não está chato! Precisamos reconhecer o verdadeiro peso das nossas palavras, seus riscos e efeitos que, muitas vezes, preferimos negligenciar. É por isso que hoje vamos falar sobre o uso indiscriminado da palavra “gorda”.

Aposto que você nunca parou para pensar quantas vezes a utiliza de forma equivocada. Eu mesma, que vivi quase 30 anos assombrada por esse conjunto de letras, não tinha me dado conta do tamanho da carga negativa que colocamos sobre ela. É ai que começa o preconceito.

A forma como eu, você e muitas das nossas amigas usam o termo “gorda” já traz um juízo de valor enraizado. Pode ter certeza que 9 em cada 10 pessoas atribuem a esse adjetivo um cunho negativo, tirando a neutralidade que lhe deveria ser inerente, transformando uma simples característica em algo depreciativo, uma espécie de demérito.

Você pode não querer engordar, isso é legitimo, um direito, uma opção. Da mesma forma, pode não gostar da imagem refletida no espelho, seja ela como for. Entretanto, a carga negativa da palavra “gorda” nos foi repassada – uma crença socialmente construída que alimenta preconceitos – interfere diretamente na liberdade de inúmeras mulheres e coloca em xeque a saúde mental, levando a transtornos psiquiátricos e alimentares. Anorexia, bulimia e uma série de outras doenças estão por aí para comprovar o ponto, propagando-se quase como uma epidemia pelo mundo.

É comum ouvirmos referências a um corpo magro associando-o a um padrão de vida saudável. OK. Contudo, falar em saúde e gordura é como estar naquelas situações onde nenhuma resposta está 100% certa ou errada. Existem magros doentes e magros saudáveis, da mesma forma existem gordos doentes e gordos saudáveis.

É inegável que a obesidade representa um risco maior para o desenvolvimento de uma série de doenças, exigindo cuidados e atenção. Contudo, ela não pode, por si só, ser interpretada como carta branca para que uma sociedade adoecida dissemine preconceito em nome da “saúde” do corpo físico.  A obesidade NÃO
pode ser motivo de piada, depreciação, ausência de dignidade ou qualquer forma de desrespeito.

Vocês acham mesmo que essa gordofobia está funcionando? Porque, a meu ver, ela só cria angústia, estabelecendo uma relação de culpa com a comida, ansiedade para alcançar a meta de peso a ser perdida, frustração de expectativas não concretizadas, um comportamento alimentar desequilibrado e um mecanismo paralisante naqueles que tem medo do julgamento alheio.

Uma das coisas mais curiosas de tudo isso é a rejeição que esta desconstrução causa. É impressionante como muita gente opta por atacar, ofender ou descredibilizar aqueles que fazem o que querem com seus corpos fora do padrão. Seja usar um biquíni pequeno na praia, tirar foto de lingerie ou curtir uma barriga de fora, sem neuroses. Aparentemente, não faz sentido algum uma pessoa feliz com seu corpo magro, alegre na sua dieta e satisfeita com sua rotina de academia se incomodar com a liberdade do outro com seu corpo.

Por que a liberdade do outro incomoda? A verdade é que qualquer incômodo diz mais sobre quem critica do que sobre quem é criticado. Precisamos refletir a quem esse rigor estético atende. Cotidianamente vemos mulheres se submetendo a verdadeiros sacrifícios para se encaixarem ao padrão de beleza imposto, vivendo em massagistas que prometem modelar o corpo, submetendo-se a dietas cada vez mais restritivas, experimentando todos os modismos alimentares, compensando o brigadeiro do dia anterior em uma hora de pedaladas frenéticas na academia. E não raro percebemos que quem está desconfortável com a desconstrução está inserido numa rotina de sacrifícios em prol de um padrão.

Dissociar a palavra gorda de algo negativo não significa levantar a bandeira da obesidade. Tampouco é defender uma ideia de ficar acomodado. Fazer exercício é o melhor remédio para a saúde segundo a OMS, todo mundo deveria cuidar do seu corpo, se movimentar e trata-lo bem, independente do peso ou da forma. Cuidar do seu corpo porque você o ama é muito mais efetivo do que cuidar dele porque você o odeia.

Ser gordo não é desvio de caráter, não deveria ser motivo de vergonha, tampouco razão para segregação. Precisamos viver numa sociedade inclusiva, em que possamos lutar juntos contra preconceito. Onde pessoas não sintam vergonha de seus corpos e se exercitem livremente, preservando a sanidade mental em detrimento de corpos esteticamente perfeitos.

Quanto ao meu lugar de fala? Para as pessoas magras, eu sou gorda. Para as pessoas gordas, eu sou magra. Para mim eu sou curvilínea, mas também costumo ouvir que sou gordinha ou cheinha. Muita gente fala isso como se esses termos fossem amenizar a carga valorativa enraizada na palavra “gorda”. Não se enganem, a própria opção pelos termos alternativos já denuncia todo o preconceito sobre o qual falamos até agora.

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